Conto:

Protagonista

Anoiteceu sem que ao menos o sol fosse visto, o imenso cinza do dia encobrira todos sentimentos de companheirismo que por ventura surgissem, mesmo que a esmo. Sentou-se com o olhar embaçado, vidrado na cadeira de balanço que não se movia, repentinamente voltou a si e então desvirou os dois copos, rearranjou os talheres e passou um pano nos pratos.
Ergue-se, indo até a velha e empoeirada vitrola onde, na juventude, ouvia seus discos, colocou um jazz e dançando foi até o bar para preparar seu gim – pouca tônica, duas pedras de gelo e dose dupla. Balançou o gelo do copo, e acertou o penteado frente ao espelho antes de voltar até a mesa, a comida já cheirava bem, e parecia que a noite iria ser extremamente agradável.
Lembrou que seria necessário um tanto de romantismo, para que seu ego se satisfizesse, foi ao sótão e garimpou meio a imensa bagunça um castiçal, para duas velas, voltou para cozinha e ali deu uma bela limpeza no castiçal, procurou velas decoradas e colou-o, rodeado de flores, bem ao centro da mesa.
A hora havia chegado, incendiou os pavios e apagou as luzes, correu pela casa para acertar o perfume e desligar o fogo da comida, respirou fundo para que seus nervos se contivessem e voltou para sua poltrona, onde degustou sua bebida até adormecer. As velas apenas apagaram.

Diego. [22/11/2007]